As cidades de Recife e São Luís, apesar da distância e das diferenças, têm diversas semelhanças.
Recife sintetiza o berço da colonização portuguesa, do açúcar e do engenho; São Luís apresenta consigo as marcas da passagem francesa pelo Brasil colonial – cuja relação com os índios foi mais amistosa do que a dos portugueses. Os traçados da arquitetura colonial recifense apelam para paredes; em São Luís, são os azulejos que reinam absolutos.
Mesmo nessas aparentes diferenças, entretanto, há semelhanças. Boa parte do mapeamento das ruas ludovicenses (ludovicense é como se chama o natural de São Luís) foi elaborado pelos holandeses em 1641, quando a ilha era regida por Maurício de Nassau (1604-1679), então Governador do Recife; isso significa que, no traçado urbano, há muito de Recife em São Luís – e vice-versa – graças ao conde Nassau.
Há mais semelhanças entre Recife e São Luís. Uma afeição pela cultura popular também une, simbolicamente, as duas cidades. São tem também um enorme apego aos festejos juninos; e embora as festas maranhenses não tenham o mesmo prestígio das de Caruaru e Campina Grande, em São Luís há um lampejo de autenticidade e de vivência cultural no São João.
Trata-se da principal festa popular do Maranhão. Tem início dia 13 de junho, dia de Santo Antônio e segue até São Pedro (dia 29) e o pouco celebrado em outros locais São Marçal (30 de junho).
Nessa época, a cidade fica repleta de arraiais e grande parte da população é envolvida nas comemorações. A maior atração deste período é o bumba-meu-boi, a mais importante manifestação folclórica do Estado, com aquela exuberância com seus ritmos, danças e cores. O bumba-meu-boi surgiu no Brasil em fins do século XVIII, no Nordeste, sendo gradualmente incorporado pelas comunidades rurais.
No Maranhão, esse processo de assimilação gerou um espetáculo à parte. O auto popular do bumba-meu-boi conta a história de Catirina, uma escrava que leva seu homem, o nêgo Chico, a matar o boi mais bonito da fazenda para satisfazer-lhe o desejo de grávida: comer língua de boi.
Um dos momentos mais empolgantes da festa é no dia de São Pedro. Todos os grupos de bumba-meu-boi da ilha vão até a capela de São Pedro, no bairro da Madre Deus, para pagar promessas e prestar homenagens ao santo. Neste período acontecem também outras manifestações folclóricas como a quadrilha, o lelê, o caroço, o cacuriá e o tambor de crioula.
Grande parte das manifestações folclóricas e culturais deste período tem lugar no Centro Histórico de São Luís (declarado Patrimônio da Humanidade pelo Unesco), um conjunto arquitetônico que engloba cerca de 5.500 prédios, datados dos séculos XVII e XIX, remetendo qualquer pessoa a um passado de riqueza, onde barões e prósperos comerciantes acumularam fortunas; além dos prédios históricos, o Centro abriga ainda lojas, cinemas, teatros, hoteis e restaurantes.
Apesar de tombado, há áreas do centro visivelmente mal cuidadas e prédios em verdadeiro estado de ruína. Dois pontos imperdíveis do Centro Histórico são o Museu Histórico e Artístico do Maranhão (MHAM), que funciona em um sobrado construído no ano de 1836 e possui um acervo que retrata os costumes coloniais, e o Convento das Mercês, que embora tenha ocupado recentemente as manchetes de forma negativa, continua tendo uma das arquiteturas mais exuberantes do centro.
Pertinho está o Teatro Arthur Azevedo, uma das mais importantes e luxuosas casas de espetáculos do país. Inaugurado em 1817, sofreu várias reformas, algumas impostas pela igreja, em função da proximidade com a paróquia da Sé e da má fama dos teatros àquela época.
E falando de Arthur Azevedo, vale lembrar que São Luís é cidade natal de diversos grandes escritores brasileiros, como o próprio Arthur, Gonçalves Dias, Aluísio de Azevedo, Raimundo Correia, Sousândrade, Josué Montello e muitos outros. Em épocas passadas, São Luís foi conhecida como a Atenas brasileira; até hoje, em nenhuma capital brasileira os habitantes falam um português tão correto como em São Luís.
São Luís e artesanato também andam de mãos juntas. Para não errar na compra, vá ao Ceprama, mais importante núcleo de distribuição de artesanato do Maranhão. Funciona num casarão de aproximadamente 3.000 m² , antigas instalações da Companhia de Fiação e Tecelagem de Cânhamo, onde hoje se comercializa artesanato das mais diversas formas.
Fica aí a sugestão: se você já conhece o Recife, dê uma passada em São Luís para fazer a comparação.